Provavelmente você já conversou com pessoas que só falam de si mesmas na maior parte do tempo: você conta para aquela pessoa o que aconteceu com você e ela responde contando o que aconteceu com ela. Se você disser a ela como você se sente, ela responde dizendo como ela se sente.
Se você fala alguma coisa sobre você, ela responde falando alguma coisa sobre ela. Acho que você é capaz de se lembrar de alguém assim.
É possível que você já tenha tentado contar algo seu para uma dessas pessoas e ela não demonstrou o menor interesse pelo que você dizia, já assumindo logo o solitário monólogo centrado nela mesma. Isso me lembra um palco onde aquela pessoa ocupa o lugar de protagonista do espetáculo e você fica na platéia, apenas contemplando e sem participar de fato. Cria-se uma via de mão única, um discurso solitário fechado em si mesmo.
Como disse o filósofo Martin Buber, quando digo “eu” já estou convocando o “tu”, pois não teria como existir um “eu” se não existisse um “tu”. Eu e tu estão entrelaçados. Se a pessoa que estou conversando se torna invisível pra mim, pois estou muito ocupado olhando pra mim mesmo, eu não estaria fechando a possibilidade da troca?
Afinal, isso seria praticamente negar que aquela pessoa que estou conversando também existe. Com isso, a gente perde a possibilidade do “nós”, a possibilidade de um encontro em um solo em comum onde podemos compartilhar nossas experiências.
Em tempos de pandemia e isolamento social, somos solicitados constantemente a ter mais empatia e cuidado com as pessoas. Seguimos ressignificando nossas relações. Nesse cenário, as pessoas que só falam de si são confrontadas por essa realidade.
Elas são solicitadas a saírem das bolhas que construíram em torno de si mesmas, para que seja possível enxergar um horizonte mais amplo que ultrapassa o seu próprio eu. A empatia, entendida aqui como uma atitude de disposição, de abertura e de disponibilidade ao outro, nos abre a possibilidade de abandonar nossa própria perspectiva para irmos ao encontro do outro.
10 comentários
Conheço uma pessoa que é mesmo assim! Sempre com o ego nas alturas! Incomodar? Claro que sim! Não se pode chamar de amizade quando 99,9% das conversas só se ouve a pessoa a falar dela própria! Mas o pior disso tudo é a falta de empatia com o sucesso do outro!
Não há nada mais destruidor que partilhar alguma coisa que te faz bem e em segundos tornam as coisas boas em coisas insignificantes!
É difícil me afastar porque não sei como fazê-lo sem fazer de uma forma brusca!
Gostei muito do seu texto obrigado sucesso!
Conheço uma pessoa que é mesmo assim! Sempre com o ego nas alturas! Incomodar? Claro que sim! Não se pode chamar de amizade quando 99,9% das conversas só se ouve a pessoa a falar dela própria! Mas o pior disso tudo é a falta de empatia com o sucesso do outro!
Não há nada mais destruidor que partilhar alguma coisa que te faz bem e em segundos tornam as coisas boas em coisas insignificantes!
É difícil me afastar porque não sei como fazê-lo sem fazer de uma forma brusca!
Gostei muito do seu texto obrigado sucesso!
Eu conheço uma pessoa assim, até evito ligar pra ela,as vezes só quero trocar umas ideias,ser ouvida , ouvir também,bater um papo,mas ela fala tanto dela mesma,que às vezes depois da conversa fico até angustiada é só fala de problemas e mais problemas e isso faz com que eu me afaste dela,se ela me ouvisse um pouco me bastaria, excelente texto Tiago . parabéns.
Que bom que você gostou, Lucimar. Além de tudo isso, tem o fato de que você está sempre aberta a escutá-la, mas a pessoa nunca percebe que você também quer ser escutada.
É claro que conheço pessoas assim. Quando preciso me relacionar com elas, de alguma forma, sinto um incomodo dentro do peito além de um grande estresse e de uma enorme canseira …
Pois é Gledmar, e vira um grande problema precisar se relacionar com elas (quando a vontade seria não se relacionar) e acabar sentindo tudo isso.
Eu conheço várias pessoas assim, e devido a ficar presa a meus próprios problemas, acabo não percebendo que os outros tem problemas também. Por isso, tenho medo de me tornar assim e sempre me vigio para responder e perguntar de volta “e você, como está?”. O importante é tratar o outro de igual para igual, lembrar que ninguém está 100% bem, ter empatia e principalmente é necessário ser humano.
Sim Taynara, é sempre bom estarmos presentes se também estamos adotando esse fechamento com o outro, muitas vezes fazemos até sem perceber…
Simplesmente fantástico. Eu conheço uma pessoa assim e parece que atualmente estamos vivendo essa realidade.
Oi Breno, obrigado! Que bom que você também percebe essa triste realidade. Esse fechamento nos distancia uns dos outros e elimina a troca, fazendo com que as relações fiquem cada vez mais superficiais.